/* */ Cor Sem Fim: Eu perguntei, Daniel Catarino respondeu

Eu perguntei, Daniel Catarino respondeu

Daniel Catarino, 32 anos, foi o artista que tocou na Quina das Beatas na passada sexta-feira (12/02/2016). Considera-se criativo, livre e empenhado e não é antipático. 

Tanto projecto!

Porquê? Por causa da criatividade. Trabalha e treina a criatividade e acredita que sorte é diferente de talento. E é desse trabalho constante da criatividade que surgem imensas ideias. Felizmente, Daniel tem amigos que são (bons) músicos (isto aqui já é sorte!). Daniel divide-se desde o folk rock, com os Bicho do Mato, ao hard rock com os Uaninauei, passando pela música ambiental, Cajado, e o chamado de projecto de inverno (que está mais ou menos parado e é mais para passar o tempo), Rijo, e ainda a produção de bandas sonoras, Long Desert Cowboy. Não considera os grupos uma decisão, mas um acontecimento: conheceu as pessoas, quis trabalhar com elas e foram avante com isso.

E onde há tempo para isso tudo? Como é gerir?

Obviamente, não é fácil. Entre todos estes projectos e ainda ser tradutor freelancer, há que gerir bem os horários e definir prioridades (imaginem quando chega a altura de marcar concertos!). Foi-se tornando mais fácil pois todos os membros das outras bandas também têm outros projectos e, com a amizade, tudo fica orientado. Vão alternando as prioridades, não sendo deixado nenhum de fora. Agora está focado no seu trabalho a solo.

Pode ser considerado maluco e diz que esse é o seu cartão de apresentação. 

Trabalhou na Irlanda (onde já tocou) como tradutor durante dois anos. Despediu-se na altura em que ia receber um aumento e veio para Portugal viver da música. Agora, é da junção das duas que tira o seu salário. Falámos de como é ser freelancer, umas vez fáceis e outras difíceis (também por causa da ausência de horário).

Grandes públicos ou pequenos? Grandes. Solo ou banda? Ambos. Português ou inglês? Ambos. 

Primeiro só escrevia em inglês, depois só em português e agora decidiu juntar os dois, pois as suas influências vão tanto do Zeca Afonso aos Nirvana, do Sérgio Godinho aos Pearl Jam. Nenhuma influência conta mais que a outra, então faz de tudo um pouco.

Públicos surpreendentes!

Curiosamente, no Norte (ele é de Cabeção, Alentejo). Públicos quentes, ligados ao concerto (o que não quer dizer histéricos), como se estivessem com o artista. Barcelos, Porto. A solo? Com que banda? Com vários projectos! O que mostra o espírito das pessoas (dá-lhe Porto!). Houve um casal que foi ver um concerto dele e, no final, juraram-lhe que uma música dele lhes tocou tanto e que impediu o divórcio deles.

Quinta vez em Portalegre: Long Desert Cowboy em 2008, Uaninauei, Rijo, Solo e agora a Solo outra vez. Tocou em 2013 no Optimus (NOS!!!) Alive com os Uaninauei e é anti-coca.

Pequeno-almoço mais psicadélico? Um domingo de manhã, numa aldeia perto de Portalegre. Tinham dado um concerto no dia antes (ele e um colega) e entraram num café de caçadores com chapéus de cowboy (o concerto foi dos Long Desert Cowboy). Entram no café e olham para o balcão: espingardas encostadas. Do outro lado, ecrã com o canal caça e pesca. E o café cheio de caçadores. Pintem lá esta linda imagem na vossa cabeça...

Primeiro concerto? Quinta do Bill, em '95. Música preferida? Space Oddity do David Bowie era a que fazia mais sentido durante a entrevista. Música sua preferida? Difícil escolher, mas "Evolução". Qual o brinquedo de infância que nunca largava? Fácil e simples: Molas da roupa que usava para fazer percursos na colcha da cama dos pais e dois carrinhos.

O segredo dele para escrever músicas? Tentar ter o equilíbrio perfeito entre o classy e o não complexo, de modo a que qualquer um entenda, mas sem ser música barata. Melhores experiências musicais? Tocar com os TV Rural e ter sido por uma noite o baixista contratado de Fast Eddie Nelson. Top 3 de sítios para tocar? México, por causa dos filmes de cowboys, e África, Mali. E um terceiro? Definimos a Lua. 

Porquê Mali?

Daniel diz que tem um "preto" dentro de si. Criou uma personagem de lá, cego, de 19 anos, que encontrou um mp3 na rua com um disco do John Lee Hooker. Essa personagem começou a aprender blues e publicou duas músicas online com a descrição de que improvisou com um turista. Mas foi Daniel que gravou em casa. Entretanto, começou a receber pedidos de entrevistas de revistas alemãs e americanas para descobrirem mais sobre o miúdo. Aflito, "matou-o". Havia uma equipa de jornalistas pronta para irem ao Mali procurar o inexistente rapaz. Isto em 2010. Há dois anos, Catarino "ressuscitou-o", dando a desculpa de que o miúdo teria estado sem contacto, e lançou mais três músicas.

Por fim, gosta de se obrigar a fazer coisas boas e assim superou o medo de palcos. É ateu e vive das emoções que as pessoas lhe dão. A música é o seu amor e a sua mulher. Não lhe interessa o local onde toca, mas sim o público. Não tem um ritual para antes dos concertos. E acabámos a entrevista com uma pergunta curiosa: Quais são os usos de uma colher de pau invertida?



"Como artista tens que ser ambicioso. Como pessoa tens que ser humilde." - Daniel Catarino

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