/* */ Cor Sem Fim: Eu perguntei, The Black Mamba respondeu

Eu perguntei, The Black Mamba respondeu

Foi uma entrevista calma: eu, o Miguel (36 anos) e o Pedro (32 anos), os três sentados na plateia do auditório onde iam tocar à noite.  

Pedro Tatanka
The Black Mamba não é o início do mundo da música para eles: já era músicas contratados de sessão, profissionais; já viviam desta arte. Participaram com imensos artistas (desde Richie Campbell a Aurea, passando por Ed Motta, Rui Veloso e Gabriel o Pensador: antigo baixista da banda). De momento, continuam a participar de diferentes formas em outros projectos, "para desenjoar", mas vivem só da música, sendo os The Black Mamba a prioridade, o "core business"(como o Miguel lhe chamou). Não fazem só participação com outros artistas, mas também com músicos freelancer (principalmente o Miguel), o que eu acho bastante importante.  Com três palavrinhas apenas definiram-se como um projecto genuíno, intenso e honesto.


Brinquedos de infância

Primeiro concerto a que foram? Miguel diz que o concerto que o marcou foi o dos Guns N'Roses em Alvalade, em 1992 (tinha ele 12 anos). Já o Pedro costumava ir com os pais ver vários concertos, mas o primeiro grande concerto a que quis ir foi o dos ACDC com o Joe Satriani a abrir, em 1996. O Miguel tinha uma guitarra de fado que teve um desfecho infeliz: um dia ele empurrou o irmão para cima da cama e ele sentou-se em cima da guitarra e partiu-a, deixando o Miguel desgostoso. Por sua vez, o Pedro tinha uma "cena" cheia de brinquedos velhos, mas o brinquedo que ele destacou, o brinquedo que mais lhe ficou na memória, foi um arco que o pai dele lhe fez na altura do filme do Robin Hood (com o Morgan Freeman e o Alan Rickman) e o Pedro tinha a mania que era o Robin dos Bosques e o pai fez-lhe um arco clássico.

Miguel Casais

Públicos

Um público que os surpreendeu de uma maneira que não estavam à espera foi, por exemplo, o do primeiro concerto "oficial" (como quem diz "maiorzinho") na sala pequena do Hard Club no Porto. Foi uma produção do tio do Pedro e foi uma surpresa porque estava cheio. O concerto em Estarreja (talvez a primeira vez que esgotaram um auditório) também foi um concerto surpreendente, porque não estavam à espera que as pessoas de lá apreciassem a música deles daquele jeito. Houve, também, um concerto na tournée de 2015, no Brasil, que também os marcou: num evento chamado Virada Cultural, onde os The Black Mamba era completamente desconhecidos e no fim o público já nem os queriam deixar sair do palco com tanta foto e tanto autógrafo pedido. No entanto, não há preferência entre públicos grandes ou pequenos, porque são cenas diferentes. No CAEP, por exemplo, sentem-se mais próximos das pessoas, sentem-se em casa. Começaram em bares, onde as pessoas agarram os artistas e lhes gritam aos ouvidos enquanto estes tocam e isso ainda é mais próximo que aqui no CAEP e eles gostam disso. Mas também gostam de coisas mais distantes das pessoas, como no Marés Vivas, em Debandada no Porto ou no Alive, que são também mais eléctricos e com mais adrenalina. Em Portalegre já tinham estado, mas não com os The Black Mamba e ainda não tiveram oportunidade de visitar a cidade. 

Tops!

O Miguel falou de uma onda de festivais; o Pedro falou de salas emblemáticas. O Miguel (e o Pedro concordou) disse que gostava de tocar no Central Park, em Nova York. O Pedro prefere as salas pelas suas histórias, portanto Royal Albert Hall. Ainda em Londres, o Miguel falou do Earls Court e Hammersmith. Junto ao mar, na cidade ou no campo? Para Pedro, seria lógico que dissesse junto ao mar: é surfista e vive na serra que vai dar à praia, mas diz que é indiferente. Quanto ao Miguel (que também gosta muito do mar), escolheria a cidade para tocar. 

Falando de músicas preferidas, o Miguel diz que não consegue escolher mas o Pedro pensou logo em três: Too Late (uma música que tem três títulos diferentes: um na parte de trás do CD, outro no CD e outro nas letras do CD), Ride The Sun e a It Ain't You (na qual o Miguel concordou). Dizem que só cantam em português e em inglês porque não sabem mais língua nenhuma (se bem  que às vezes o Pedro tem uns rasgos num castelhano muito básico).

Rui Pity

Histórias do Brasil

Contaram-me duas: uma sobre a frase "Aperta George!" e outra sobre risos no meio do sushi.
A primeira foi a frase inspiradora que me disseram. A história? Simples. Apertar quer dizer tocar com garra. Estavam no Rock in Rio Brasil e encontraram o George Benson (que canta On Broadway). O Pedro já estava um bocadinho alterado e disse-lhe "Aperta George!" e essa frase ficou famosa entre os músicos.
A segunda foi sobre uma história engraçada que aconteceu no Brasil com um membro do staff. Passado cinco dias lá, já falava português do Brasil com um sotaque perfeito. Ele entrou tanto no personagem que a meio de um jantar de sushi, disse, abrasileiradamente, "Pode me passar o guarrrrdanapo porrr favorrr?". Resultado: risada geral e bocados de sushi a voar.

Fiquei ainda a saber porque apareciam três pessoas e eu só estava a entrevistar dois: é porque um dos membros fundadores, o Ciro Cruz, já saiu. Os outros são amigos que colaboram (Pity&Pombinho). Donde veio a ideia do projecto em acústico? Foi ideia do manager para uma tournée de inverno (salas fechadas pelo país). Tem sido uma surpresa, diz o Miguel, pois têm conseguido esgotar auditórios em sítios com públicos mais difíceis, como é o caso de Pombal, onde conseguir ter casa cheia num domingo à noite a chover. Sentem-se orgulhosos do ponto a que chegaram, obviamente. 
Entre frutas e vegetais, o Miguel prefere vegetais e o Pedro prefere frutas. São "opostos" que se "atraem" e que equilibram as coisas.

Acabei a conversa a perguntar porque é que se chama "The Black Mamba". Black Mamba é uma cobra feroz e venenosa. A missão dele sé espalhar o veneno, envenenar a malta para que fiquem contagiados pela música deles.

Depois de tudo isto, fui com eles até ao restaurante, apesar do frio que estava (mas eles foram uns fofinhos). Para além de trauteios na entrevista, ainda ouvi o concerto deles (obviamente!). 


E ainda entrevistei o David Pessoa! 

Marco Pombinho

"Foi uma cena louca e genuína da parte das pessoas." - Pedro Tatanka (sobre a Virada Cultural)

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